E quando o imponderável acontece, caindo sobre nós o inesperado que nos tira do prumo, nos arranca da frágil zona de segurança que desesperadamente fingimos existir? Como não se desesperar, como não sentir-se desprotegido, perdido, sem nenhuma saida, o que resta fazer diante de algo imensurável e definitivo?
Aconteceu nestes dias meu jovem sobrinho, tão lindo, meigo, pai de uma menininha de um aninho, que chegou em casa e correu para abraça-lo, o chamou e ele não acordava, porque morreu, o coração parou, assim, do nada, de repente. O que fazer com esta dor dilacerante que a gente sente, diante deste imponderável avassalador e inexoravel destino humano do ser lançado para a morte. Uau!… Heidegger e a angústia, tem a vida algum sentido?
Mas não pretendo mergulhar neste abismo da angústia, submergi muito profundamente por estas águas, agora escolho outros caminhos. Prefiro refletir com Osho, que fala com tanta sabedoria e profundidade que a morte é como uma porta, que é para ser atravessada, inexoravelmente todos nós passaremos por ela. Na minha vida,tantos seres amados já passaram e sempre doí tanto, tanto e continuo aqui aguardando minha vez .
A maneira como Osho fala da morte, me aquieta, me consola,e ele diz tão sabiamente : ” A morte é uma porta, não é uma parada. A consciência se move, porém seu corpo permanece na porta – exatamente como você chegou aqui e deixou seus calçados na porta. O corpo é deixado fora do templo e sua consciência penetra no templo. É o fenômeno mais sutil, a vida não é nada diante disso. A vida basicamente é apenas uma preparação para morrer, e somente aqueles que são sábios aprendem em suas vidas como morrer. Se você não souber como morrer você terá perdido todo o significado da vida: é uma preparação, é um treino, é uma disciplina.”
A percepção da vida como treino, como aprendizado, como um caminho, preparação como diz Osho, para o morrer, não no sentido de acabar, findar mas como algo maior numa consciencia que avança, que se move´, põe a questão da morte em outra perspectiva. Mas infelizmente no mundo ocidental não é comum a tradição de acolher com naturalidade, a mortalidade. Até a palavra morte é temida e até evitada, restando somente o desespero, o medo, tornando-a a grande ameaça que ronda os seres viventes, e nesta concepção é pura angústia.
Finalizo com imensa gratidão a magnifica sabedoria de Osho colhida no seu artigo “Morte como uma porta”(Osho, And the Flowers Showered, Discurso #5): “A vida não pode morrer.Em algum lugar você ficou identificado com o corpo, com o mecanismo. O mecanismo é para morrer, o mecanismo não pode ser eterno, porque o mecanismo depende de muitas coisas; é um fenômeno condicionado. Consciência é incondicionada, não depende de nada. Ela pode flutuar como uma nuvem no céu, ela não possui raízes, ela não é causada, ela nunca nasceu, então ela nunca poderá morrer.”
E assim vou seguindo, aprendendo, consciencia mutante Eu sou..
Mariangela Barreto